David Cameron teve ontem o primeiro revés, desde que recolocou os tories no número 10 de Downing Street. No fratricida confronto pela liderança do Labour, saiu vitorioso o caçula Miliband. David, o mais velho, representava o último resquício da desgastada Terceira Via, enquanto o vitorioso Ed se propôs a "radicalizar" a acção política dos trabalhistas. A diferenciação que Ed irá proporcionar ao grande partido da esquerda britânica, colocará o recém-eleito executivo sob pressão, sobretudo numa altura em que começa a colocar em prática a sua agenda liberal, cortando a direito as despesas com o estado social e ameaçando privatizar tudo o que seja serviço público em terras de Sua Majestade.
Brown e Blair empreenderam uma viragem ao centro que custou aos publicamente exauridos trabalhistas as últimas eleições, onde sofreram uma derrota de proporções bíblicas. O eleitorado tradicional fugiu para os Lib Dems, que inclusivamente garantiram o apoio de muitos sindicatos. Sindicatos que agora constituiram uma das chaves da inesperada vitória do Miliband que defende a causa ambientalista, o fortalecimento do papel das organizações sindicais, a importância do apoio à participação comunitária ou ainda o regresso dos britânicos ao multilateralismo diplomático.
No discurso de vitória, Ed vincou uma mensagem de mudança e de crença. Não sendo de Chicago, tem uma certa aura que acompanha os grandes líderes e pressente-se uma genuidade de espírito capaz de mover multidões. Prepare-se Cameron: a sua estadia em Downing Street não será um mar de rosas e arrisca-se a terminar muito mais cedo do que o previsto.