A 23 de Janeiro do décimo primeiro ano deste segundo milénio seremos chamados a participar na festa de consagração do sempre austero e ainda mais heróico cidadão que escapa imaculado ao erro e quase sem arranhões à dúvida. Isso. Adivinhou: falo de Cavaco Silva. O macambúzio inquilino do Palácio de Belém renovará o contrato por mais cinco anos, envolto na aura de quem permitiu o entendimento entre José Pinto de Sousa e o amigo de Ângelo Correia que por ora ainda vai ditando leis, ali para os lados da São Caetano à Lapa. A bóia foi estendida e o pessoal vai acreditar pela enésima vez no conto de fadas. Sorridente como nunca, o fleumático algarvio anunciará que estão criadas condições para a recuperação do país. Pelos actores de sempre e sem grandes desvios do guião do costume. À boa maneira da mexicana novela que é a alternância de poder no luso burgo.
Sócrates aparecerá ao lado do derrotado, contudo alegre, Manuel, mas não conseguirá disfarçar o júbilo por não ter de aturar alguém de esquerda quinzenalmente. Não volta a ouvir a lenga lenga do milhão de votos e, à boa maneira norte-coreana, é nomeado Querido Líder entre as hostes que de socialistas já só têm o "s". O inseguro António volta a um recanto do parlamento e entrega-se a oposição ao António Maria, que dizem ser um Saralho do Carrilho. Ainda que não em inglês técnico, já está preparado o anúncio de fim da crise. À segunda lá iremos e o Pinho anda por Columbia a acender as iluminadas mentes universitárias americanas. A EDP, fruto dos benefícios arrecadados pelo patrocínio a tão patriótica demanda, será a candeia que alumiará o já então V Império no seu esotérico trilho de ainda mais sinuosa glória.
O Pedro cederá, mais cedo ou mais tarde, ao Rio que contra ele corre e que na Invicta nasce. O homem que por aí anda não gostará muito da conversa e mais cedo que tarde os gatos, que no saco laranja quietos permanecem, sairão para a arena. Com os resultados de sempre.
Pergunta o leitor: e o povo, pá?
Hoje li que o Partido Comunista Português emitiu um comunicado onde considerou a atribuição do Prémio a Liu Xaobo como "um golpe na credibilidade de um galardão que deveria contribuir para a afirmação dos valores da paz, da solidariedade e da amizade entre os povos."
Como pode a China ser vista como um modelo de paz, solidariedade, quando assistimos na China a politicas contra os direitos humanos e a civilização?