Max Weber falou do termo há uns quantos anitos. As draconianas medidas anunciadas ontem, mas há muito esperadas, são reflexo deste fenómeno. Não quero com isto defender um caminho despesista ou o descontrolo das contas públicas. Todavia, enough is enough, e é tempo de colocar numa prateleira os pontos de interrogação e sair para a rua. Basta!
O anúncio de cortes salariais para a função pública, de redução das prestações do Rendimento Social de Inserção, de abolição do abono de família para famílias com rendimentos acima dos 643 euros, entre outras medidas de igual estirpe, constitui um ataque sem paralelo à essência da democracia e da sociedade portuguesa. Quem, a título de exemplo, adquire submarinos a preço exorbitante e simultaneamente ataca os sectores mais desprotegidos da sociedade, não é merecedor do epíteto de socialista e preenche os darwinianos requisitos de predador.
A solução apresentada é fórmula gasta e não resolve minimamente os problemas dos dias que correm. O aumento das receitas através do IVA, sem a devida revisão dos escalões do referido imposto, revela o desespero de quem nos governa. A simples criação de um escalão adicional para bens de luxo, na ordem dos 33%, representaria para o erário público uma receita estimada de cerca de 400 milhões de euros (mais do que a poupança estimada com o corte nas transferências do Estado para o Ensino e para os subsectores da administração pública).
Incomoda de igual forma verificar as difusas e nada concretas medidas dirigidas ao sector financeiro (que em muito contribui para a situação em que se encontra o país), sobretudo quando comparadas com as bem concretas e definidas medidas impostas à generalidade da população. Para quando equiparar a taxa de IRC aplicada à banca à taxa aplicada às restantes empresas? Valor estimado de receita de semelhante medida: 3,2 mil milhões de euros. Leu bem. Não seria necessária qualquer medida adicional. Poder-se-iam extinguir simultaneamente uns quantos institutos, fundações e empresas públicas, reduzir uns quantos gabinetes e eventualmente substituir flores naturais por flores artificiais. Daquelas baratinhas, que se vendem num qualquer chinês. O protocolo cumpria-se e poupavam-se mais de 600 mil euros...
Survival of the fittest? Não! O ser humano transcende a evolução. Por isso somos....humanos.