Confissão feita ao leitor, com orgulho indigno deste (nada) sincero acto de contrição: sou fã de "tascas" e regular frequentador das ditas casas. Há muito escolhi um particular estabelecimento de Alcântara como refúgio de almoço. Pelo pitoresco da casa e dos donos, pela política de preços controlados, pelas pataniscas e por um sem número de razões que não me apraz enumerar neste preciso instante. Entre os camaradas de "tasquice" que fui adquirindo ao longo de meses, destaco um em particular. Antigo estivador no Porto de Lisboa, sindicalista convicto e simpático palreador de todo e qualquer tema que a jeito se ponha. Simpatizei com ele desde a primeira hora. Não obstante o obstinado maoísmo (com a expectável negação das dezenas de milhões de vítimas da aberração feita homem), o exacerbado sportinguismo e o palito que constantemente adorna o sempre visível dente canino.
Durante o repasto, o António afirma-se indignado com o novo agente da PSP que anda lá pelo "bairro". Ao que parece o referido agente foi excessivamente zeloso, porque multou a minha companhia de almoço. Que se limitou a estacionar onde toda a gente estaciona, há pelo menos 30 anos. É verdade que estava a pisar "ligeiramente" a passadeira. Mas sinceramente. Não há direito! Fosse ele um desses "pretos" que por aí anda a "gamar" velhotas e o dito polícia nem um dedo ousaria levantar. Finalmente, dei por mim a atingir a essência do maoísmo. E do nazismo. E do salazarismo. E do fascismo. E do estalinismo. E de todos os "ismos" que não passam de plasticina ideológica que reveste egos gigantescos e oportunistas. Ah! Pelo caminho percebi também qual a origem do lusitano fado. Andam por aí mais Zedongs travestidos do que seríamos capazes de admitir...