As recentes e controversas medidas tomadas pelo executivo gaulês no sentido de “livrar” os franceses de centenas de ciganos têm vários paralelos históricos. A década de 20 e 30 do século passado marcou o apogeu da emergência de movimentos e partidos de matriz xenófoba no Velho Continente, com especial destaque para o NSDAP na Alemanha e para o Partido Nacional Fascista em Itália. Apesar de terem ascendido ao poder de forma (relativamente) democrática, ambos acabaram por ter o poder absoluto nos respectivos países. Tanto Hitler, como Mussolini, agregaram grandes multidões à sua volta graças ao caminho apontado como salvação e saída da Grande Depressão. Não devemos perder de vista o citado móbil de crescimento de ambos os movimentos, nem podemos racionalmente analisar a conjuntura actual sem relembrar a criação de um “inimigo” comum (na altura, o comunismo) que sempre baliza e orienta a limitada paleta de princípios desta estirpe partidária.
Abre consecutivamente blocos noticiários e ocupa e preocupa todos nós. O seu nome é crise. Não obstante a sempre perene presença, actualmente atinge níveis que só encontram paralelo com a famigerada Depressão. Fazendo disso proveito, papão socialista assola de forma mais notória os WASP americanos, mas também faz comichão a muito boa gente por essa Europa fora. Primeiro bode expiatório encontrado. Abundam no nosso e nos restantes “euro-burgos” os fazedores de opinião que insistem em culpar o estado social e o próprio Estado pela crise que se vive. Esquecem a matriz liberal que aqui nos trouxe e absolvem os Madoff desta vida, cuja vida pouco ou nada é afectada pelo tempo que corre.
O rodas baixas do Eliseu e a sua UMP não são, todavia, caso virgem no continente que estranhamente se orgulha de ser o farol moral deste mundo. Bossi em Itália ou ainda o Vlaams Belang na Bélgica consubstanciam um crescente movimento que assume contornos que não podem ser ignorados. Sob pena de um retrocesso civilizacional de consequências imprevisíveis. Se é verdade que grande parte dos movimentos europeus de extrema-direita não passam de meras organizações neo-nazis, outros há que colocam menos ênfase no revivalismo nazi e que centram a sua retórica na atribuição de culpa por todos os males às respectivas comunidades imigrantes, às minorias étnicas e/ou religiosas. O dado mais preocupante de todo este processo centra-se na aceitação que estes senhores têm vindo a encontrar junto das classes mais baixas, cada vez mais afectadas pelo desemprego e cujo horizonte enegrece a cada dia que passa. Adquirem uma aura messiânica e são olhados com imerecida respeitabilidade por quem devia desdenhar um “déjà vu” que não pode ser aceitável em pleno século XXI.
Infelizmente, o recente caso francês não é caso isolado e deve ser encarado como mais um de muitos que o antecederam por essa Europa fora. Não será o último e a discussão apenas começou. Aprendamos com os erros do passado e esperemos que a intrépida Reding seja exemplo a seguir. Chamberlain e a sua paz podre não é paradigma desejável para os dias de hoje. Ceder, neste momento, implica a aceitação de uma espiral que acabará por acarretar um fim previsível e escrito com o sangue de muitos nos anais da História.